Monday, July 23, 2007

A M O R


Amor - Empédocles foi o primeiro filósofo que utilizou a ideia de amor em sentido cósmico-metafisico, ao considerar o amor e a luta como princípios de união e separação, respectivamente, dos elementos que constituem o universo. Mas a noção de amor só alcançou uma significação simultaneamente central e complexa em Platão. São muitas as referências ao amor, as descrições e as classificações do amor que encontramos em Platão. É comparado a uma forma de caça (O sofista); é como uma loucura (Fedro); é um deus poderoso. Pode haver três espécies de amor: o do corpo, o da alma e uma mistura de ambos (Leis). Em geral, o amor pode ser mau ou ilegítimo e bom e legítimo: o amor mau não é propriamente o amor do corpo pelo corpo, mas aquele que não está iluminado pelo amor da alma e que não tem em conta a irradiação que as ideias produzem sobre o corpo. Seria, pois, precipitado falar, no caso de Platão, de um desprezo do corpo, o que acontece é que o corpo deve amar, por assim dizer, por amor da alma. O corpo pode ser, deste modo, aquilo em que uma alma bela e boa resplandece, transfigurando-se aos olhos do amante, que assim descobre no amado novos valores talvez invisíveis para os que não amam. O amor é, para Platão, sempre amor a algo. O amante não possui este algo que ama, porque então já não haveria amor. Também não se encontra completamente desprovido dele, pois então nem sequer o amara; é uma oscilação entre possuir e o não possuir, o ter e o não ter. Na sua aspiração para o amado o acto de amor do amante engendra a beleza. Surge aqui o motivo metafisico dentro do humano e pessoal, pois, em última análise, os amores às coisas particulares e aos seres humanos particulares não podem ser se não reflexos, participações, do amor à beleza absoluta (Banquete), que é a Ideia do Belo em si. Sob a influência do verdadeiro e puro amor, a alma ascende à contemplação do ideal eterno. Em Plotino, é também o que faz que uma realidade volte o seu rosto, por assim dizer, para a realidade da qual emanou, Mas Plotino fala muito particularmente do amor da alma à inteligência (Éneadas). Com o aparecimento do cristianismo, o tema do amor assume renovada importância. Inclusive por vezes, alguns pensadores, como São Clemente( v.Alexandria, Escola de), insistiram demasiado no tema e parece que reduziram a vida divina e em geral todo o ser e perfeição, a amor, indo dar à chamada "Gnose do amor", origem da "disputa sobre o amor puro", que teve grande ressonância na era moderna. Santo Agostinho considera frequentemente a caridade como amor pessoal (divino e humano). A caridade é sempre boa, em contrapartida o amor pode ser bom ou mau consoante seja respectivamente amor ao bem ou amor ao mal. O amor do homem a Deus e de Deus ao homem é sempre um bem. O amor do homem pelo seu próximo pode ser um bem (quando é por amor de Deus) ou um mal (quando se baseia numa inclinação puramente humana.

José Ferrater Mora

Fotografia de Nuno Teixeira - Performer


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